Inicio esse humilde artigo agradecendo o convite da Simone Castellani, de poder falar um pouquinho das nossas missões ecumênicas, e escrever nesse maravilhoso Blog.
Me chamo Ana Lúcia, sou católica franciscana, e meu chamado para a Caridade veio de forma profunda quando comecei a conhecer melhor a vida de São Francisco de Assis, para mim foi algo transformador e ao mesmo tempo revolucionário em minha vida.
Quando fundei em 04 de maio de 2009 o Grupo Ecumênico Misericórdia, foi algo muito desafiador para mim, mas não fundei esse Grupo por fundar, foi realmente um chamado de Deus, que todos os dias me convidava a sair da minha zona de conforto, pois eu estava na época servindo dentro de uma Igreja Católica, com pessoas católicas que pensavam relativamente igual a mim, coordenava um Grupo que não fui eu que fundei, mas que estava dando continuidade, onde levávamos refeições para nossos irmãos nas calçadas, e a maioria que participava dessas missões eram jovens entre 14 a 25 anos, era uma missão que eu amava muitíssimo porque amava muito os jovens dessa Igreja da qual eu servia, e amava muitíssimo ir para as ruas ao encontro dos excluídos, os quais chamo os preferidos de Jesus.
Mas além desses grandes desafios que tive que enfrentar, tive que enfrentar o meu maior desafio pessoal; vejam eu servia dentro da igreja, servia externamente os irmãos nas calçadas, mas Deus que nos conhece intimamente, Ele sabia do que tinha que trabalhar forte em mim; embora eu fosse uma pessoa caridosa, generosa e de fé; eu ainda tinha uma grande barreira dentro de mim. Sabem qual era essa barreira? O preconceito. E vocês pensarão, mas como é possível ter preconceito servindo nas ruas irmãos alcoolizados, drogados, pessoas sem higiene pessoal, pessoas com tantos problemas psiquiátricos e emocionais?
Com os irmãos eu não tinha nenhum preconceito, mas na minha infinita ignorância, pois costumo chamar preconceito, falta de sabedoria, falta de conhecimento, pois só sentimos preconceito do que não conhecemos, eu tinha muitas barreiras com meus hoje grandes amigos e irmãos espíritas. E talvez você que esteja lendo esse artigo, também tenha uma barreira em sua vida.
O primeiro passo que dei e foi muito difícil foi sair da Igreja que servia, era ministra da Eucaristia algo muito precioso em Deus, era coordenadora de uma Pastoral de Rua, e também fazia parte da Coordenação do Grupo de Jovens dessa Paróquia, tinha realmente muitos trabalhos na Igreja; eu não tinha tempo para nada, trabalhava fora, muitas vezes do trabalho já ia direto para a Igreja, porque a messe é grande e os operários quase sempre são poucos.
Na minha casa morava conosco uma tia idosa acamada, minha mãe estava com a saúde boa na época, meu cachorrinho, eu e meu irmão.
Durante 01 ano inteiro antes, treinei duas pessoas da Igreja para ficarem no meu lugar, mas quando foi nosso último almoço foi realmente muito difícil para mim. Meu combustível de vida era e continua sendo nossas missões. Muitos jovens queriam me seguir, mas eu não tinha para onde leva-los comigo, porque nem eu mesma sabia qual direção seguir, sabia que Deus queria isso de mim, e disse a eles que era para eles darem continuidade aos nossos trabalhos na Igreja, que meu caminho seria muito desafiador e não poderia fazer isso com eles, foi muito difícil. Eu falei aos religiosos, aos jovens e leigos, irei começar uma missão do zero, Deus está me chamando para isso, e essa missão será de forma ecumênica.
Porque ecumênica? Durante todos esses anos percebi muitos conflitos entre religiões, as pessoas perdendo todo o sentido de Deus, exaltando uma religião como se essa ou aquela realmente fosse a única que salva, a única de Deus, o que para mim, isso não é verdade.
Fé e Caridade devem ser sempre um casamento harmonioso. O respeito, a fraternidade com todos é essencial para realmente estarmos em sintonia verdadeira com Deus.
Deus não quer de forma alguma que briguemos uns com os outros. Ele nos ama infinitamente e nos quer sempre unidos, mesmo que com crenças diferentes, opiniões diferentes, escolaridade, nível social diferentes; o que realmente importa para Deus é o nosso coração e a forma como conduzimos seus ensinamentos em nossas vidas diariamente.
Muitos disseram cuidado Ana, pode não dar certo, muitos pensamentos diferentes, você terá que lidar com muitos conflitos, não será nada fácil. Onde irá encontrar essas pessoas de outras religiões se você viveu a vida inteira dentro da Igreja Católica?
Eu lembro que respondi, se Deus estiver a frente, Ele conduzirá tudo da forma que Ele deseja que seja feita essa nova missão em minha vida, e irá me apresentar a essas pessoas.
Sai da Paróquia em Fev/2009, fiquei durante 02 meses em deserto comigo mesma, em oração, eu precisava saber o que Deus queria de mim.
Em casa, recebi um convite do meu irmão intermediando uma amiga dele do trabalho em Março/2009 para ir até São Bernardo do Campo para poder falar um pouquinho de trabalhos nas ruas com irmãos de rua, no último momento quando estava indo para o local o meu irmão menciona para mim que o local era Espírita. Imaginem como eu fiquei naquele momento , repleta de barreiras com o Espiritismo comecei a rezar da hora da saída até chegar no Metrô onde lá estava uma pessoa maravilhosa me aguardando para me levar até São Bernardo do Campo, a amiga do trabalho do meu irmão, a pessoa que fez o convite para mim.
Eu uso um símbolo católico franciscano que se chama Tao, sempre por fora da blusa, nesse dia não foi diferente.
Cheguei naquele local de Deus silencioso, harmonioso, com pessoas extremamente educadas, cultas, gentis e amáveis. Todos me trataram muitíssimo bem. Rezaram o Pai Nosso de uma forma desconhecida para mim, mas um Pai Nosso lindíssimo, e de forma muito simples fui falar da missão de rua com nossos irmãos. As pessoas faziam perguntas, eu respondia. Então no finalzinho eu disse irei iniciar um Grupo Ecumênico, por enquanto tenho duas pessoas comigo, Jesus e Nossa Senhora. As pessoas ficaram me olhando. Ao sair algumas pessoas vieram ao meu encontro e disseram por favor deixe seu contato, gostaríamos de fazer essa experiência com você. Eu fiquei muito feliz, e perguntei a elas, gostaria de saber qual é a religião de cada um de vocês, quero saber quem são os primeiros que Jesus está enviando para nossas missões, e todos responderam somos espíritas.
Naquele momento meu coração acelerou era o meu preconceito, eram minhas barreiras gritando dentro de mim; mas mesmo assim passei meu contato para todos e anotei o contato de todos eles...
Neste momento, Ana Lúcia se vê entre o preconceito e a missão de caridade!
Tantos irmãos necessitados, precisando urgentemente de ajuda! Um antigo conflito interno ressurgia como um gigante dentro daquela criatura tão delicada! E agora o que fazer?
Será que os espíritas entrariam em contato com ela?
Será que seria possível juntar pessoas de diferentes religiões em um mesmo grupo?!!!
Aguarde as “cenas do próximo capítulo” para descobrir as respostas...
Ana Lúcia Lima
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